segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Kafka era vegetariano
Loide Branco




Franz Kafka





Você já deve ter lido alguns dos livros famosos de Kafka, entre eles: O Processo, A Metamorfose a lista é longa. Lendo um pouco sobre sua biografia, achei várias coisas interessantes, que de forma compacta quero compartilhar por aqui.

Tudo isso porque no próximo post eu faço um pequeno comentário sobre o livro "O Processo", sobre o que penso. E acho que muitas vezes nos identificamos com algumas frases, ditos, justamente porque esses autores consagrados conseguem traduzir de forma tão perfeita, precisa e simples  nossos sentimentos, e acho que Kafka é atual e sempre me faz pensar no que vivenciamos, como somos espectadores nesse mundo e como muitas vezes passamos por ele algumas vezes reconhecidos, amados admirados e outras vezes invisíveis.

Conta-se que ele era de uma família classe média burguesa de judeus, ele nasceu em 3/7/1883 em Praga.

Kafka considerava o alemão a sua língua materna, e o detalhe era que na época o fato de falar alemão era um privilégio uma questão de ascensão social,mas ele também falava e escrevia muito bem o tcheco. 

Começou a estudar Química mas depois mudou para o Direito, para agradar ao pai e também porque nessa área as possibilidades de emprego eram melhores. Em 1906 ele recebe seu Certificado de Doutor e fez um estágio obrigatório durante um ano sem salário, como escrivão no Tribunal Civil e Penal. Alguma semelhança com os jovens advogados do século XXI ou mesmo recém formados de outras áreas?

Em seguida começa a trabalhar numa empresa de seguros, o que seu pai Hermann sempre dizia que era um emprego só para pagar as contas "a bread job". Mais alguma semelhança? quantos vivem de "bread job"??? A bibliografia de Kafka é extensa, rica mas achei também muito interessante o fato dele ter conhecido em 1911 um grupo de teatro Yiddishi fazendo assim uma imersão na literatura  e também na língua, conta-se que nessa época ele tornou-se vegetariano, não imaginava kafka vegetariano você consegue imaginar?

Ele vivia em conflito com seu pai, que era muito austero, nesse período surgiu um movimento chamado Existencialismo e dizem que ele fazia parte e que era comum os escritores terem ódio da figura paterna; o fato é que o seu pai influenciou muito de seus escritos.

Um pequeno parêntese para dizer que a ideia  e ponto de partida do existencialismo é que o  indivíduo é caracterizado pelo que se tem designado por "atitude existencial", ou uma sensação de desorientação e confusão face a um mundo aparentemente sem sentido e absurdo. Muitos existencialistas também viam as filosofias académicas e sistematizadas, no estilo e conteúdo, como sendo muito abstractas e longínquas das experiências humanas concretas. 

Continuando, dizem que Kafka teve uma vida íntima muito ativa e que era torturado por desejos sexuais  estes detalhes picantes não vou alongar, mas o fato é que ele teve alguns relacionamentos com algumas mulheres entre elas Felice Bauer, e eles se corresponderam durante 5 anos por cartas e que ficou noivo 2 vezes com desta.

O seu noivado em 1914 durou apenas seis semanas, ele rompeu o noivado e isolou-se na casa da irmã Valli e lá continuou a escrever O Processo que foi justamente influenciado pela leitura de um de seus autores favoritos Heinrich von Kleist, pela ideia subjacente de justiça que havia na novela de Kleist e a realidade, o sentimento de culpa provocado pelo rompimento do noivado, o que fez nascer assim O Processo. Achei interessante também, o fato de sua mãe escrever  à Felice: "Talvez ele não tenha sido criado para o casamento, pois a sua ambição é apenas a sua escrita, ela é para ele o mais importante na vida". Escrever era então uma forma de oração para Kafka como ele viria a dizer.

kafka tinha medo que pensassem que ele era mental e fisicamente repulsivo e houve quem falasse que ele tinha uma certa desordem esquizofrênica.
Mas quem conheceu ele de perto achava que tinha um comportamento quieto, agradável com um excelente senso de humor e possuía uma inteligência óbvia. Ele tinha uma aparência austera que não condizia com sua personalidade considerada infantil e encantadora. Sempre pronto a ajudar e aconselhar os amigos.

Era também bom corredor, remador e nadador e adorava fazer caminhadas nas montanhas com os amigos nos finais de semana. Também se interessava por medicina alternativa, o método moderno de educação chamado Montessori e novidades como o avião e o cinema. Conta-se também que foi filiado ao partido socialista e que usava um cravo vermelho na lapela para que vissem que era socialista e satirizava a burocracia do comunismo.

Era fascinado também pela cultura judaica, mesmo porque fazia parte de sua história e frequentemente se perguntava o que havia de comum com ele e o judaismo ao que respondia que não tinha nada em comum e que deveria ficar quieto no seu canto.

Em 1923 ele conhece uma polaca de origem judaica, com quem passa a viver em Berlim. Porém, a inflação, a miséria e o seu estado físico debilitado pois foi diagnosticado com tuberculose o que não havia cura, tudo isso derruba Kafka definitivamente. 

A tuberculose piora, e em 10 de Abril de 1924 ele é internado em um sanatório, sua irmã Ottla cuida dele mas em 3 de Junho de 1924 ele falece e a causa da morte foi a  fome devido a sua condição, sua garganta fechou era muito difícil se alimentar e na época ainda não haviam desenvolvido a nutrição parenteral. Seu corpo foi trazido para Praga e enterrado no Cemitério Judeu.

Kafka foi desconhecido durante toda a sua vida mas ele não considerava a fama em si importante. Mas logo após a sua morte, tornou-se famoso.

E para terminar, Kafka resume assim o seu conflito absurdo com o universo, na página inicial de seu diário:

"Fechado em quatro paredes eu me encontro tal qual a um imigrante aprisionado em um país estrangeiro;.. eu vejo minha família como aliens, estranhos, cujo costumes estrangeiros, rituais e língua, desafiam a compreensão; ... embora eu não queira isto, eles me forçam a participar em seus rituais bizarros;... eu não pude resistir..."

Em aforismos número 50 escreveu:

"Em minha cabeça, tenho um mundo imenso. Mas como me libertar e libertá-lo sem rasga-los. Eu prefiro mil vezes rasgá-lo em mim do que segurá-lo ou enterrá-lo. É por isso que estou aqui e isso é muito claro para mim".

"O homem não pode viver sem uma confiança permanente em algo indestrutível dentro de si, embora ambos, o indestrutível às vezes e sua própria confiança, possa permancer permanentemente dentro dele".







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