"Uma Foto Mil Lembranças"
Lembranças em Preto e Branco
Era novembro de 1965, tempos difíceis de repressão, de mudanças sociais no Brasil dos anos sessenta, ela havia acabado de completar 26 anos e ele já estava com 66 anos e em seus braços a pequena nenê que a poucos dias nascera, a primeira filha de seu segundo casamento a oitava dentre os filhos que tivera e que trazia uma nova esperança, um recomeço.
Ali eu, pequenina, nos braços de meu pai à 45 anos atrás não sabia que só teria a presença dele por mais 7 anos, mas o que conta o tempo? Se o que importa é a qualidade de nossas sentimentos.
Retiro a pequena foto preto e branco da caixinha do meu coração e fecho os olhos por um pequeno instante, e consigo recuar no relógio do tempo e volto a ter sete anos e a ter um pai amoroso, cuidadoso, sinto a minha mão pequenina na tua, pequenos flashes de recordação enquanto caminhávamos e como tu parecias tão alto diante de mim e também a sensação de estar contigo na velha cadeira de vime branca de balanço a qual tu embalavas-me enquanto contavas-me histórias e também a pequena marca em minha mão direita de quando tu perdestes o equilíbrio e caístes sobre mim.
Sim, sempre quando olho para esta pequena marca lembro com saudade o tempo que tivemos juntos de como fui feliz e afortunada.
É verdade, o tempo passou, já não sou mais aquela nenê mas o que importa é a doce lembrança da primeira infância e saber que não importa o tempo que passou, nem o fato de você não ter me visto crescer ou participado das grandes coisas da minha vida, porque estivestes e estarás para sempre vivo dentro do meu coração através do amor que sempre senti por ti.
Hoje aos 45 anos muitas mudanças políticas, sociais, econômicas aconteceram no nosso país, o regime militar já não existe vivemos numa democracia relativamente jovem e com certeza tu te encantarias com os dois netos que te dei e as nossas pequenas e grandes conquistas e também te surpreenderias com as descobertas dos cientistas, o avanço tecnológico mas também te indignarias com o mundo em que vivemos, com a pobreza, as guerras, a fome e a falta de amor e fé.
Ainda com a foto em minhas mãos, trago-a para junto do meu peito e volto a guardá-la no meu coração.
Loide
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